Grupo de "charme" nasceu nos jardins de Pedro e Inês
Quando era adolescente, Miguel Júdice passava as férias do Verão no palácio da avó, na Quinta das Lágrimas (Coimbra), a mostrar aos turistas os jardins que foram palco do amor de D. Pedro e Inês de Castro. Em troca, "recebia umas moedas, umas gratificações" e algo mais importante... "Aprendi várias línguas e ganhei o gosto de oferecer a melhor experiência possível a quem nos visita." Duas décadas depois, o gestor mantém a filosofia de "bem receber, oferecendo charme e espaços com significado". É o presidente do grupo Lágrimas Hotels & Emotions. E a Quinta das Lágrimas é a sua jóia da coroa.
Aqueles Verões, à beira do Mondego, foram "o primeiro MBA de turismo" tirado por Miguel Júdice. E o gestor, de 38 anos (filho mais velho do advogado José Miguel Júdice) não mais se separou daqueles jardins de beleza serena, onde antes improvisava visitas turísticas ou vendia bebidas frescas junto à Fonte dos Amores.
O nome diz tudo: foi ali, naquela quinta, que nasceu o grupo Lágrimas. Era preciso criar um negócio rentável, para manter o palácio da Quinta das Lágrimas na posse da família Júdice. "E a exploração hoteleira surgiu como a melhor opção", conta Miguel Júdice, ao DN. De repente, um dos espaços mais emblemáticos de Coimbra transformou-se num complexo turístico repleto de história e glamour, com hotel, spa, campo de golfe e um restaurante (Arcadas da Capela) detentor de uma estrela Michelin. E todos os Júdice se habituaram à ideia de terem a casa de família repleta de turistas. "Até a minha avó, já falecida, gostava de ter a casa cheia de 'visitas'", conta Miguel.
Desde aí, o grupo Lágrimas não parou de crescer. Agora, tem hotéis, restaurantes e spas espalhados por Porto, Coimbra, Lisboa, Algarve (Moncarapacho), Comporta e Montemor-o-Novo (aí, em parceria com a Sousa Cunhal Turismo). Mas Miguel Júdice não abdica da estratégia de "crescimento sustententado e consolidado" do grupo, "aproveitando as oportunidades" que vão surgindo.
A par dos hotéis, que ocupam espaços emblemáticos de Lisboa, Porto e Coimbra, os restaurantes são a outra paixão do líder do grupo Lágrimas. O Arcadas "é o complemento" da Quinta das Lágrimas, em Coimbra, assim como a Cantina da Estrela e a Boca do Lobo complementam os hotéis da Estrela (Lisboa) e Infante Sagres (Porto). Há ainda outros espaços de degustação no Terreiro do Paço, Casino Lisboa, Pavilhão do Conhecimento ou Praia da Comporta. Porém, o mais emblemático é o famoso Eleven.
Entre restauração e hotelaria, Júdice não consegue identificar qual a sua área de eleição: "É impossível escolher entre os dois, é como escolher entre dois filhos." E prefere sublinhar a linha que norteia o grupo. Luxo? Nada disso: "Charme." "Não queremos oferecer luxo aos nossos visitantes apenas por ser algo faustoso, queremos dar charme e algo mais aos clientes", frisa o responsável.
É por isso que o grupo Lágrimas também está na génese da Fundação Inês de Castro, que promove eventos culturais como o Festival das Artes, em Coimbra. "Isso é algo essencial, que faz parte do nosso DNA familiar e da nossa estratégia. Acreditamos que temos a responsabilidade de desenvolver uma extensa actividade cultural nas nossas unidades", explica Miguel Júdice.
Não é surpresa: o Lágrimas Hotels & Emotions é um grupo familiar e o DNA dos Júdico está lá marcado, principalmente na quinta que deu nome à empresa. O apego nota-se nos pequenos gestos. Miguel Júdice não deixa de ajeitar um moldura ou reposicionar uma cadeira enquanto caminha pelo hotel de Coimbra. E sorri ao lembrar o seu percurso (além do grupo Lágrimas, preside à Associação Portuguesa de Hotelaria): afinal "em pequeno", naqueles anos em que guiava turistas pelos jardins da Quinta das Lágrimas, ele só "queria ser GNR".